Aeglidae é uma família de crustáceos da infraordem Anomura que integram a superfamília monotípica Aegloidea. Os membros desta família vivem em habitats de água doce e têm distribuição natural restrita à América do Sul. Esta família agrupa a totalidade dos membros do grupo Anomura encontrados em água doce, com exceção da espécie Clibanarius fonticola, um caranguejo-eremita endémico em Espiritu Santo (Vanuatu).[1] Aegla, o único género extante da família, contém cerca de 72 espécies extantes validamente descritas.[2]
Descrição
Os membros da família Aeglidae apresentam semelhanças morfológicas com a superfamília Galatheoidea, nomeadamente o abdómen parcialmente dobrado sob o tórax. O grande dimorfismo sexual no abdómen está diretamente relacionado com o hábito de transportar os ovos fertilizados sobre os pleópodes.[3]
Os Aeglidae são omnívoros, preferindo matéria vegetal, mas também consumindo insectos, moluscos, pequenos peixes e larvas.[4]
O acasalamento é precedido por um período de cortejo sexual e, contrariamente ao que é comum em Decapoda de grupos taxonómicos filogeneticamente próximos, não coincide com as fases de muda da carapaça.[5] Os ovos dão diretamente origem a juvenis que logo na eclosão são morfologicamente semelhantes aos adultos. Os progenitores cuidam da sua prole, mantendo-a próxima do fundo do corpo de água.[6]
Os membros desta família têm distribuição natural na América do Sul, nas regiões entre os 20° S e os 50° S,[7] em altitudes que vão dos 320 aos 3500 m acima do nível médio do mar.[8] Aegla, o único género extante da família, contém cerca de 72 espécies extantes validamente descritas.[2] Entre as 63 espécies e subespécies descritas em 2008, duas encontram-se em lagos, quatro em cavernas e as restantes 57 encontram-se predominantemente em rios e outros cursos de água.[8] O género inclui 10 espécies endémicas do Brasil, todas com distribuição natural restrita às regiões do sul e sueste do país.[9]
O registo fóssil do grupo inclui um conjunto de taxa fósseis, nomeadamente dos géneros Haumuriaegla e Protaegla. No género Haumuriaegla, a espécie Haumuriaegla glaessneri é conhecida apenas do registo fóssil do Haumuriano (Cretáceo Superior) encontrado próximo de Cheviot, Nova Zelândia.[10] Ao tempo da sua descoberta, Haumuriaegla era o único fóssil conhecido da família e o seu único membro marinho. A espécie Protaegla miniscula foi descoberta em rochas do Albiano na Formação Tlayúa, próximo de Tepexi de Rodríguez, México.[11]
A família parece ter a sua origem no ambiente marinho, há pelo menos 75 milhões de anos atrás,[8] e entrou na América do Sul a partir das costas do Oceano Pacífico durante o Oligoceno.
Espécies
Aegla, o único género extante da família,[2] contém cerca de 72 espécies extantes validamente descritas (lista actualizada a 2012):[Note 1]
-
Aegla abtao Schmitt, 1942
-
Aegla affinis Schmitt, 1942
-
Aegla alacalufi Jara & López, 1981
-
Aegla araucaniensis Jara, 1980
-
Aegla bahamondei Jara, 1982
-
Aegla brevipalma Bond-Buckup & Santos in Santos et al., 2012
-
Aegla camargoi Buckup & Rossi, 1977
-
Aegla castro Schmitt, 1942
-
Aegla cavernicola Türkay, 1972
-
Aegla cholchol Jara & Palacios, 1999
-
Aegla concepcionensis Schmitt, 1942
-
Aegla denticulata Nicolet, 1849
-
Aegla expansa Jara, 1992
-
Aegla franca Schmitt, 1942
-
Aegla franciscana Buckup & Rossi, 1977
-
Aegla grisella Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla hueicollensis Jara & Palacios, 1999
-
Aegla humahuaca Schmitt, 1942
-
Aegla inconspicua Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla inermis Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla intercalata Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla intermedia Girard, 1855
-
Aegla itacolomiensis Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla jarai Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla jujuyana Schmitt, 1942
-
Aegla laevis (Latreille, 1818)
-
Aegla lata Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla leachi Bond-Buckup & Buckup in Santos et al., 2012
-
Aegla leptochela Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla leptodactyla Buckup & Rossi, 1977
-
Aegla ligulata Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla manni Jara, 1980
-
Aegla marginata Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla manuniflata Bond-Buckup & Santos in Santos et al., 2009
-
Aegla microphthalma Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla muelleri Bond-Buckup & Buckup in Bond-Buckup et al., 2010
-
Aegla neuquensis Schmitt, 1942
-
Aegla oblata Bond-Buckup & Santos in Santos et al., 2012
-
Aegla obstipa Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla occidentalis Jara, Pérez-Losada & Crandall, 2003
-
Aegla odebrechtii Müller, 1876
-
Aegla papudo Schmitt, 1942
-
Aegla parana Schmitt, 1942
-
Aegla parva Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla paulensis Schmitt, 1942
-
Aegla perobae Hebling & Rodrigues, 1977
-
Aegla pewenchae Jara, 1994
-
Aegla plana Buckup & Rossi, 1977
-
Aegla platensis Schmitt, 1942
-
Aegla pomerana Bond-Buckup & Buckup in Bond-Buckup et al., 2010
-
Aegla prado Schmitt, 1942
-
Aegla renana Bond-Buckup & Santos in Santos et al., 2010
-
Aegla ringueleti Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla riolimayana Schmitt, 1942
-
Aegla rossiana Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla rostrata Jara, 1977
-
Aegla saltensis Bond-Buckup & Jara in Bond-Buckup et al., 2010
-
Aegla sanlorenzo Schmitt, 1942
-
Aegla scamosa Ringuelet, 1948
-
Aegla schmitti Hobbs III, 1979
-
Aegla septentrionalis Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla serrana Buckup & Rossi, 1977
-
Aegla singularis Ringuelet, 1948
-
Aegla spectabilis Jara, 1986
-
Aegla spinipalma Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla spinosa Bond-Buckup & Buckup, 1994
-
Aegla strinatii Türkay, 1972
-
Aegla talcahuano Schmitt, 1942
-
Aegla uruguayana Schmitt, 1942
-
Aegla violacea Bond-Buckup & Buckup, 1994
Notas
-
↑ A lista inclui as espécies aceites por McLaughlin et al. (2010),[12] com a atualização feita por Santos et al. (2012).[2]
Referências
-
↑ Patsy A. McLaughlin & Talbot Murray (1990). «Clibanarius fonticola, new species (Anomura: Paguridea: Diogenidae), from a fresh-water pool on Espiritu Santo, Vanuatu». Journal of Crustacean Biology. 10 (4): 695–702. JSTOR 1548413. doi:10.2307/1548413
-
↑ a b c d Sandro Santos, Georgina Bond-Buckup, Ludwig Buckup, Marcos Pérez-Losada, Maegan Finley & Keith A. Crandall (2012). «Three new species of Aegla (Anomura) freshwater crabs from the upper Uruguay River hydrographic basin in Brazil». Journal of Crustacean Biology. 32 (4): 529–540. doi:10.1163/193724012X635935 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
-
↑ Karine Delevati Colpo, Ludmilla Oliveira Ribeiro & Sandro Santos (2005). «Population biology of the freshwater anomuran Aegla longirostri (Aeglidae) from South Brazilian streams». Journal of Crustacean Biology. 25 (3): 495–499. doi:10.1651/C-2543
-
↑ Sandro Santos, Luciane Ayres-Peres, Rosana C. F. Cardoso & Carolina C. Sokolowicz (2008). «Natural diet of the freshwater anomuran Aegla longirostri (Crustacea, Anomura, Aeglidae)». Journal of Natural History. 42 (13 & 14): 1027–1037. doi:10.1080/00222930701882466 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
-
↑ M. Almerão, G. Bond-Buckup & M. de S. Mendonça, Jr. (2010). «Mating behavior of Aegla platensis (Crustacea, Anomura, Aeglidae) under laboratory conditions». Journal of Ethology. 28: 87–94. doi:10.1007/s10164-009-0159-7 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
-
↑ Pablo Collins, Veronica Williner & Federico Giri (2007). «Littoral Communities. Macrocrustaceans». In: Martín H. Iriondo, Juan César Paggi & María Julieta Parma. The Middle Paraná River: Limnology of a Subtropical Wetland. Heidelberg: Springer. pp. 277–301. ISBN 978-3-540-70624-3. doi:10.1007/978-3-540-70624-3_11
-
↑ Christopher C. Tudge (2003). «Endemic and enigmatic: the reproductive biology of Aegla (Crustacea: Anomura: Aeglidae) with observations on sperm structure» (PDF). Memoirs of Museum Victoria. 60 (1): 63–70. Consultado em 14 de fevereiro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 23 de agosto de 2008
-
↑ a b c Georgina Bond-Buckup, Carlos G. Jara, Marcos Pérez-Losada, Ludwig Buckup & Keith A. Crandall (2008). «Global diversity of crabs (Aeglidae: Anomura: Decapoda) in freshwater». Hydrobiologia. 595 (1): 267–273. doi:10.1007/s10750-007-9022-4 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
-
↑ Sérgio L. de S. Bueno, Roberto M. Shimizu & Sérgio S. da Rocha (2007). «Estimating the population size of Aegla franca (Decapoda: Anomura: Aeglidae) by mark–recapture technique from an isolated section of Barro Preto stream, county of Claraval, state of Minas Gerais, southeastern Brazil». Journal of Crustacean Biology. 27 (4): 553–559. doi:10.1651/S-2762.1
-
↑ R. M. Feldmann (1984). «Haumuriaegla glaessneri n. gen. and sp. (Decapoda; Anomura; Aeglidae) from Haumurian (Late Cretaceous) rocks near Cheviot, New Zealand». New Zealand Journal of Geology and Geophysics. 27: 379–385. doi:10.1080/00288306.1984.10422305
-
↑ Rodney M. Feldmann, Francisco J. Vega, Shelton P. Applegate & Gale A. Bishop. «Early Cretaceous arthropods from the Tlayúa Formation at Tepexi de Rodríguez, Puebla, Mexico». Journal of Paleontology. 72 (1): 79–90. doi:10.1666/0022-3360(1998)0722.3.CO;2 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
-
↑ Patsy A. McLaughlin, Rafael Lemaitre & Keith A. Crandall (2010). «Annotated checklist of anomuran decapod crustaceans of the world (exclusive of the Kiwaoidea and families Chirostylidae and Galatheidae of the Galatheoidea). Part III – Aegloidea» (PDF). Zootaxa. Suppl. 23: 131–137